quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Hoje é outro dia da minha vida inteira.

Dezembro - 2009

Não sei se por merecimento ou por dádiva divina,
Tenho você como amigo ou amiga e não quero
Que isto mude.

Hoje é dia de sonho por um mundo melhor.
Precisamos todos estar preparados para viver tal sonho
Mesmo que o planeta aqueça mais do que devia,
Mesmo que a economia exploda toda ousadia,
Mesmo que a intolerância ganhe algumas batalhas.

Apesar do caos, bem vinda a era de peixes.
Ontem não existe no tempo. Sequer o amanhã existe,
Portanto, vivamos o hoje em todo seu esplendor.

Quantos homens ainda vão ser crucificados?
Quantos de nós serão maltratados somente por pensar?

Quero um hoje repleto de sorrisos ingênuos
De crianças maduras, de sentimentos latentes.
Quero que estejas ao meu lado em pensamento.
Pois estarei ao seu lado sempre que precisar.

Amigo, neste final de ano que se aproxima,
Resta-me desejar-lhe o que de melhor a vida possa permitir.

Feliz Natal e um Ano Novo repleto de tudo que te faz bem.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Busca

Terminei a busca desesperada
pelo amor verdadeiro, puro e inteiro,
que coubesse no meu coração.

Mas agora liberto da ânsia desvairada
de querer quem não me quer,
de viver esperando o que não vem.

Quero sentir nos meus lábios sedentos
o beijo molhado de sincero sabor.

Que tenha o sabor do paraíso,
que molhe suavemente meus lábios e
more eternamente na minha lembrança.

Que seja o início de uma viagem encantada
pelo meu corpo, deslizando como a mulher amada,
para culminar no orgasmo do nosso prazer.

E depois acariciar seus cachos ondulados,
deixando o corpo descansar da viagem,
criando um novo ânimo para viajar outra vez.

E mais..... e mais ...... e mais além .

Súdito da tua beleza

Vivo eternamente apaixonado, sonhando com teus seios arredondados deslizando nos lábios meus.
Vivo há muito enamorado, sonhando com suas curvas delicadas e pelos cachos negros ondulados dos cabelos teus.

Mas que um porém é nossa sina,
um secreto sentimento que se aproxima, dá-se a notar mas fugidio
não teve a sorte do tempo deixar germinar.

Sinto um calor que adentra minha alma quando te vejo acompanhada, sem ciúmes, mas encabulado pelo tempo que não nos foi providente e não nos permitiu deixar conhecer.

Deste seu servo, súdito da sua beleza, receba tudo o que tenho no coração e na alma como prova desta secreta e adorável paixão.


Recebe este poema tecido com a seda pura do meu mais fino tear.

E nele vai uma lágrima, nem de tristeza, nem de pesar, mas de
agradecimento por deixar–me em segredo te amar.

Anjo Bretão

Vejo voando num leão marinho colorido como uma ave, um detestado coração.
Vejo caindo dogmas aleatórios de mãos espalmadas no velório de quem se pintou num trem da estação.

Vejo diamantes no céu e imagino nem pátrias nem posses existindo e todos vivendo de bem sonhar.
Sinto que fiquei um pouco menos, bebendo sem querer o veneno, perdendo uma das vontades de ser.

Sinto este dia na minha vida quando o som da guitarra perdida adoraria ligar você também.
Vejo diante dos meus olhos espessa bruma que cinge o meu corpo como a espuma de um alívio que não chegou.

Vejo no cortejo lúgubre a presença invisível da quimera que deixa de existir.
Vejo em plena arena os leões marinhos, os óculos quebrados pelo ódio ao amor.

Sinto como se por sentença de um rei eu tivesse que acompanhar sua canção.
É uma vontade incontida de te seguir até o homem de lugar algum.

Vejo nesta manhã arbitrária, partir da loucura incendiária para o Karma, aquele que aprendi a amar só por existir.

Sinto aqui dentro do meu peito um suspeito vazio de solidão.
Não mataram a mim e nem mesmo a um simples cidadão.

Vejo John Lennon o perdido,
John Lennon o viciado,
John Lennon o achado que deixou de viver para existir.

Em 08 de dezembro de 1980

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Bom dia minha poesia

Você é, como por encanto,
a inspiração do meu canto
do meu sorriso, do meu sonhar

Você é brisa refrescante
que se faz presente no corpo amante
inebriando meu olhar.

Você é a flor do meu tempo,
poesia do meu sentimento
desabrochando ao alvorecer.

Você é o perfume delicado
que me contagia por todo lado
e sempre me faz renascer.

Bom dia minha poesia,
flor da manhã que irradia
um aroma de bem estar.

Que hoje você tenha um dia
repleto de alegrias, com as forças
positivas que meu amor vai te mandar.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Prosas - Só pra variar um pouco

Queridos, agora estarei postando no Palavras Mágicas, contos e crônicas para quebrar nossos velhos paradigmas. Espero que gostem.

O criador de figuras


Nas manhãs de domingo costumava brincar com os raios de sol. Filtrava, entre os dedos, aquela luz amarelada que descia do céu, apreciando o que se formava no chão, figuras ambíguas impressas pela sombra.

Achava aquilo tudo muito louco, tanto que se atrelava neste transe por horas seguidas.

Era um criador, modelando suas criaturas, esculpindo no ar seus castelos, úmidos e velhos, reproduções impecáveis da sua imaginação.

As vezes seus lábios desenhavam um sorriso calmo, repleto de sinceridade que logo discipava inibido pela sua extrema concentração.

Seu nome era Guilherme. Se bem que um nome tão grande não lhe caía nada natural principalmente porque ele era pequeno e franzino. Mas nós, amigos do peito e da alma atenuavamos esta discrepância chamando-o somente de Gui.

Era Gui pra lá, Gui pra cá, até que seus próprios familiares assimilaram bem o codi-nome.

Mas o tempo foi passando, os amigos do peito e da alma se distanciando cada vez mais e, enfim, sobramos o Gui e eu.

Eu passei a vida hibernando num casamento desconfortável, obsecado pela minha própria insegurança a ponto de me irritar com a alegria, me satisfazer na melancolia e ignorar a paz.

Quantas vezes eu não me enfiei num porre desavergonhado, sozinho dentro do meu ciúme até adormecer conformado! Sonhava, então, com as figuras de sombra que o velho Gui criava e nelas me consolava. Imagens irreais, cheias de fantasias. Na manhã seguinte, sóbrio e decepcionado, olhava o relógio com raiva querendo que ele parasse. Parasse às 8 horas da manhã de um domingo ensolarado.

E quando era relamente domingo, levantava antes das 8 horas, tomava um banho e ia até o Instituto. Eu tinha um prazer imenso em cumprir esta rotina, semana após semana, meses a fio, e não me importava com as pessoas que me criticavam por isso.

Quando eu chegava, sempre trazendo um pacote de cigarros, meu amigo Gui já estava esperando, aflito, andando de um lado para outro. Ele me recebia sorridente, esboçava algumas palavras e me conduzia até o páteo de mãos dadas.

O Instituto era um local agradável apesar do aspecto humilde e velho. Gui se sentia muito bem alí enquanto eu me esforçava para continuar pagando sua estadia.

Eu ficava até a hora do almoço observando em silêncio o processo de criação daquele gênio. Gênio mesmo. Gui era um gênio.

Entre uma figura e outra trocávamos palavras soltas, quase sem sentido para quem nos observasse. Mas nos entendíamos perfeitamente. Afinal, depois de tantos anos!

Um dia o terapeuta de plantão fez questão de ficar ao meu lado, calado, num silência profundo. De vez em quando balançava a cabeça negativamente, como se quisesse demonstrar que não se conformava com as cenas que via. Após alguns minutos ele me chamou e pediu que eu o acompanhasse. Saimos sem que Gui tomasse o menor conhecimento. Já na sua sala, tirou os óculos, esfregou os olhos e acendeu um cigarro. Eu não falava nada porque não tinha nada a falar. E isto o perturbava. Alguns instantes depois, pigarreou, soltou o cigarro no cinzeiro e disse:

___ Sr., Ah… como é mesmo seu nome?

___ Alex.

___ Pois bem Sr. Alex, vamos esclarecer de uma vez por todas este caso estranho.

Deixei o homem falando sozinho e voltei para junto do Gui. Não queria falar sobre o assunto, não queria ouvir sobre o assunto, enfim, não queria nada além de assistir as performances do Gui. Nada mais e, além disso, o dia estava ofuscantemente ensolarado.

Gui, um criador, um mestre, um verdadeiro guru.

Eu estava morando sozinho num pequeno apartamento no Centro da cidade, meio sem mobília, meio sem arrumação. Tinha comprado uma máquina fotográfica profissional com todo o aparato necessário. Tinha, também, adquirido de segunda mão um ampliador em bom estado. Estava tão entusiasmado que não pensava em outra coisa senão no projeto Gui.

Havia decidido que o resto do mundo devia conhecer as criações do Gui e que ele devia ser reconhecido pelo resto do mundo. Afinal, era o mínimo que eu podia fazer por quem fizera tanto por mim ao longo de todos estes anos.

Fiquei acordado a noite toda daquele sábado. Foi uma noite longa e angustiante.

Como nos tempos de criança, cheguei a rezar para o sol nascer rapidamente. A espera me forçou a pensar ainda mais na estratégia de divulgação.

Em letras garrafais: GUI, O CRIADOR DE FIGURAS. Este seria o slogan.

O relógio marcava 7 horas qando peguei a máquina e saí. O sol já estava forte, quente e vivo, dependurado lá no céu azul quase sem nuvens.

Centralizei a objetiva com agilidade pois o Gui era muito rápido em suas criações. Magníficas. A primeira figura, a segunda, a terceira e todas as que se seguiram. Gastei os dois filmes em 48 fotos de pura imaginação. Tão afobado nem me despedi do Gui. Saí correndo como um menino assustado. Já em casa, no quarto escurecido, iniciei o trabalho de revelação. Ao terminar estava estafado.

Ah Gui, velho Gui, que talento!

Sentei num sofá da sala, acendi um cigarro e coloquei os pés sobre a mesinha de centro. Deixei a fumaça vagar diante dos meus olhos, entupir minhas narinas até me saturar.

Entardecia e eu adormeci logo depois de apagar o cigarro. Tive sonhos confusos. Sombras, fumaça, luzes que me ofuscavam, duendes, sereias. Acordei meio deprimido, mole e com muito calor. Era Dezembro.

Fui até o quarto, abri a janela para o ar entrar e tirei as fotos reveladas do varal.

A primeira era toda branca. A imagem de uma brancura solene, bem à maneira do Gui. Da segunda em diante, só imagens de sombras, sem nenhum sentido, amorfas. Passei-as uma, duas, tres, dez vezes diante dos olhos e sempre via a mesma coisa. Nada. Nada que tivesse o mínimo sentido para qualquer pessoa.

Decepcionado, atirei as fotos no chão com raiva. Cadê as figuras do Gui? Onde estão as belas formas? O que eu fiz de errado para elas não saírem como eu as via?

Peguei todas as fotos, coloquei-as num saco plástico e fui até o Instituto. Era noitinha e o calor continuava forte.

Um homem que atendeu disse que não era possível falar com ninguém naquele horário. Que eu voltasse no dia seguinte. Enfurecido comecei a gritar pelo Gui. Ele não me ouvia. Era tarde para quem vive do sol e a esta altura ela já devia ter ido dormir.

De volta a minha casa, repassei as fotos, todas várias vezes e deixei minha imaginação se encarregar do resto. Um resto que era sempre mais louco, mais atraente. Flúidos que regiam um bom astral. E então eu senti no ar. Senti que nem mesmo poderia olhar minha imagem além do espelho. Só mesmo numa manhã de domingo ensolarada, através das figuras do velho e indivisível Gui.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Não te poupo de me amar

Não quero ver dos seus olhos lágrimas presas,
Nem quero que se esconda atrás de uma força
Que não tens.

Quero que tenhas esperança de felicidade,
com muito prazer de verdade ao viver
nosso sonho de amor.

Quero te ver radiante, confiando que
Seremos felizes, esperando nosso futuro
Vivendo um presente de paz, amor e tranqüilidade.

Não posso te contagiar com o vírus das minhas angústias,
Quero te poupar sim, para que possas me acalentar
Quando o futuro vier.

Não se magoe, não se reprima eu sou mesmo assim.
Só não te poupo de me amar, de me querer, de me
Fazer companhia, de noite e de dia, até o sol nascer.

Só não te poupo da minha presença, da minha
Vontade de te ver sorrir, de te ver realizada,
De te dar prazer.

Serei teu

Nas longas noites da tua ausência
aprendi que não sou eu sem tua presença,
aprendi que sem você ainda sou eu.

Ao som etéreo me transporto ao Éden,
onde a matéria não faz falta,
onde o amor é pleno e arrebata
qualquer ânsia, qualquer temor.

O amor de fraterno gozo,
de olhar entre as flores e sentir
o aroma do formoso perfume,
de ficar entre os pássaros
e aprender seu cantar.

Porque sofrer se não se quer sofrer?
Porque chorar se não se quer chorar ?

Ainda que passe o meu tempo e o teu se acabe,
ainda que me assole, dos algozes, a maldade,
serei teu, com ou sem você,
pois o amor que desabrochou não termina
nem mesmo se não puder ser entregue.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Alucinação


Amei na loucura de um sonho que se desmanchou
No tempo e me fez passivo.
Choro como um pequeno triste e a mulher amada
Que ainda existe, morre em mim.

Acabou o desejo de amar, findou a noite de sonho
E achei tanta miséria dentro de mim.
Ela viaja no espaço sem tempo marcado.
Só o silêncio da verdade encravado no peito pede clemência.

Viajarei também na imensidão esférica da minha cabeça.
Tudo gira como no globo da morte.
As luzes são coloridas e brilhantes no centro da minha retina.
Uma fumaça uniforme embaralha cada vez mais a imagem
Da santa prostituta de espíritos. É meu asteróide de imaculados
Beijos e dourados encantos que exala o perfume do incenso da paz.

Uma pedra é Deus. Deus é um gemido.
Não existe a morte, só a viagem.

A fraqueza do ser humano envolvida no som e no fumo verde.
Só importa o eu. Nada de paz ou amor.
Falsos pensamentos de tédio e desventuras.
Paralisação do raciocínio e ilusão do ego.
Visões, alucinações, coitos de dor.

Miserável mundo novo.

Velas acesas dentro de uma mente confusa e fria.
Vadio e covarde homem racional.
Loucura de alucinação.

Além da vida

Se um dia a correnteza quiser te levar para o mal,
Lembre-se de Deus.

Se um dia a distância te importunar,
Vença o mar pois você entendeu.

Se um dia o vento então mudar,
Siga o sol mais uma vez.

Um rumo irás tomar
Sem depois se arrepender.

E depois desta rota escolher
Nada vai te fazer errar.

E muitos amigos irás encontrar
Dos quais nenhum jamais conheceu.

Então não precisarás sonhar,
Nem pensar em vencer.

E só então estarás vivo
Em qualquer amanhecer.

Agora eu me conheço

Quero ficar diante do papel produzindo palavras.
Depois quero saber que os leitores me adoram.
Tenho necessidade de aparecer, sempre como herói,
Como salvador. Odeio ouvir não.

A angústia já faz parte de mim, me pertence, me escraviza.
O que me satisfaz não são coisas complexas,
Na verdade, são coisas muito simples.

O sol da tarde, tardiamente já se vai.
Mas eu não gosto de sol. Não gosto de calor.
Sou uma chama perdendo o ardor.
Sou um covarde perdendo batalhas e ficando
Escondido atrás do estável.

Quem me dera ser eu mesmo.
Transformar em ação as vontades,
Os desejos mais sombrios.

Sou um parasita que tem nos princípios
Ortodoxos um hospedeiro.

Aparência, é só aparência minha postura autoritária.
Sou, na verdade, governado pelos sentimentos dos outros.

Quem me dera ser autêntico, senhor de mim mesmo !

Quem me dera !

A volta


A volta.
Num dado momento.
Estático momento.
Em todos os momentos.

Regresso.
Voltas sentidas, sem sentido.
Querem que eu enlouqueça?
Pois enlouquecerei. Só um pouquinho.
Entre uma volta e outra.
Entre os regressos serei louco.
A dinâmica da loucura é complexa.

A volta.
Muitas voltas num dado momento.
Serei capaz? Serei feliz?
Não importa mais.

Coração insensato.
Quanto tempo ainda restará?
As voltas são difíceis. Causam tédio.
Não pretendo mais voltar.
E pra não voltar nunca mais, nunca mais irei.
Sentirei, eu sei, o fio da navalha,
O aconchego da mortalha, a volta sem fim.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Barco


O vento, em parte, ajuda o barco que se desloca
Lentamente sobre o branco.

O branco é a cor das águas macias que flutuam no ar.

Que paz ! Que amor ! Que solidão !

O barco segue sem destino sobre as águas,
Sem descanso ou companhia.
Descreve a rota desejada no momento e não para nunca,
Nem por dentro.

Que harmonia ! Que amor ! Que solidão !

E o barco continua vencendo as ondas,
Deslizando em cristas brancas como uma canção de amor.

É importante chegar ao destino. Mas como defini-lo ?

Que amor ! Que alegria ! Que solidão !

O barco é dourado e transmite pureza despertando
A consciência inconseqüente.

O barco continuará solitário, singrando nas notas
Das canções amigas e estimulantes.
Continuará sozinho, remando-se nas águas
E vencendo horizontes.

Que solidão !

Que paz !

quarta-feira, 8 de julho de 2009

A cor púrpura


Desceu suave, deslizando gota após gota
por longos dias, intermináveis, pernas abaixo,
incontinente.

Do alto da beleza que os poucos anos lhe
conferia, estremeceu no início, mas logo
percebeu que não era sua anomalia.

Observou solene e curiosa, moça prendada,
de cabelos ruivos delicados que contornavam
seu rosto como um véu de seda carmim.

Descia aos poucos, ora lentamente ora mais
afoito, procurando caminho entre os arbustos
que circundavam o centro da erupção.

E ela apreciou sua pureza esvaindo-se, mas
ao mesmo tempo, sentiu um calor intenso que
lhe queimava as entranhas e fazia estremecer
todo seu corpo.

Tinha iniciado outra jornada, da pureza das
bonecas à certeza de mais nada.

A cor púrpura findou no quinto dia, dia do
armistício entre a infância e a juventude.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Livre arbítrio


Hoje eu vou pensar no mundo que virá.
Hoje eu vou correr, lutar até sangrar.
Hoje eu vou fazer arder o fogo são
Que ateado à roupa desta gente é vão.

Hoje eu vou despir a cara da vergonha,
Vou mostrar ao mundo a força de uma voz.
Vou andar descalço numa maratona,
Vou beber um rio buscando sua foz.

Hoje eu vou sentar tijolo em terra firme,
Navegar jangadas pelo alto mar.
Acender a lua deste céu nativo
Libertar cativos deste mau olhar.

Quero indenizar a perda dos sentidos,
Monopolizar as águas minerais
E perpetuar a voz do meu partido
Poetando a noite cheia de cristais.

Vou tecer poemas para minha amada.
Vou buscar nas letras meu pombo real.
Vou sonhar manhãs num paraíso verde
Éden de uma raça que é racional.

Na escrivaninha vou passar meus tempos,
Transportando a luz do sol para um papel.
Muitas entrelinhas não serão escritas,
Mas serão visíveis para o azul do céu.

Agora terminando aqui com toda esta rima,
Vou comer detalhes: Coisa natural!
E pensar no tempo que se aproxima
Antes que ele passe e me seja fatal.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

A última viagem

Para Lobsang Rampa - 1978

Vi minha mãe me esperando,
Meu pai me querendo,
Cigarros tragando, me sonhando.

Vi meu corpo crescendo,
Tomando forma, nascendo faminto,
Placenta bebendo e comendo.

Vi-me, minha mãe se rasgando,
Seus pés distanciando-se,
Carne tremendo, pernas sangrando.

Vi meus passos errados, passos acertados,
Erros construídos, acertos destroçados,
Várias vezes perdido e encontrado.

Vi meu rosto sorrindo e chorando,
Por fora dormindo, por dentro acordando,
Cansado de ser, cansado de existir.

Até vi um barco zarpando,
Do eu me levando, subindo mar acima, navegando.

Vi meu braço, lenço branco acenando,
O último vestígio putrefato,
Terminada a última viagem.

Miragem


É tarde, um sol intenso.
Uma tarde imensa, um vento azul.
De cima dos Andes um condor, um carcará.
Vejo plumas alpinistas salpicando o verde.
Uma tarde intensa, um suor imenso.

Víamos pois éramos dois. Dois somente.
Perdi os sentidos nas horas, quebrou-se o silêncio.
Uma tarde de verão, poética, sensualmente erótica.
Nenhuma nitidez, apenas sua tez, alva.

É neste alvor que me escondo, medroso.
O sol me vê, me queima, me acusa.
Sua pele é alva também.
Sinto queimar meu vértice. Um bastão em chamas.
Li um dia sobre pornografia. Os obscenos.

Um sol intenso dentro de mim.
Com garra alcanço a consciência.
Ela é forte, rija, autêntica, minha.
Ela não se afeta. Ela se dilata com o sol.

O pássaro agora está faminto e quente.
Não há sol nos Andes?
Não, não há sol nos Andes. Você mente.

Agora acordo e é domingo.
Talvez o primeiro, talvez o segundo.
Mas é domingo, sempre domingo.

É tarde, um sol intenso.
Concateno as idéias, um vento azul.
Muitas idéias; Andes, condor, carcará.

É tarde, um sol intenso, imenso, sem fim.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Corpo velho


Ah como eu te queria minha
Como antes eu te tinha
E não sabia ter!

Ah como amanheceu depressa
E nada mais me resta
Senão adormecer!

Agora eu passo todo o tempo
agonizando no lamento
De te conhecer.

Não choro, a lágrima é tão pouca,
Nem mesmo a minha boca
Consegue me dizer

Se vivo realmente ou só habito,
Este corpo que já foi bonito
E agora veio envelhecer.

Corpo velho, alma entorpecida,
Que deixa aberta a ferida
Na saudade do meu bem querer.

sábado, 13 de junho de 2009

Marajás da capital


As pedras estão rolando dos barrancos horríveis dos quintais,
Das casas dos fedelhos dos morros das Rocinhas da cidade dos carnavais.

O ouro vai matando nos barrancos horríveis dos quintais das terras do
Garimpo dos coitados dos barbeiros, sapateiros, cozinheiros, etc. e tais .

Não há nada de novo nesta febre de endemia,
Nesta merda de poesia que hoje beira o caos.
Então porque eu vejo as mesmas coisas como antes,
Com barbantes, cordas, algemas e o escambau ?

Os bichos vão morrendo, as crianças se perdendo,
Os adultos se sentindo anormais,
Na terra dos duendes comunistas, cães capitalistas de fantoches ancestrais.

E as pedras vão rolando nos caminhos difíceis da moral,
Enquanto as estrelas vão dizendo o que fazer e defendendo seu status,
Marajás da capital.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Girassol


Um giramundo e uma girafa giram ao acaso.
Gira a girândola em girata pelo mundo.
Um giro lento, monótono, inquietante e mórbido.

Começa a gira e resplandece afoito o generoso gira.
A terra gira e abre o sol em aerossol.
Sorri felina a musa Marissol. É o clima.

Nasce um girassol, vem por cima.
O giramundo vem por cima da girafa.
Gira soldado, como um gato que “desgira” o prato.

Gira o sol de cada dia!
Dia cada de sol, gira!

Vem corrigir a solda que fundia.
Girassol sem ousadia. Girassol sem garbosidade.

Vem que a Marissol já é poesia.
Girassol abra o seu dia.
Vamos fugir à solta pelo jardim.
Girassol é poesia.

Va moscom er umgir as soldea legria.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Aspirações de moço




Em breve assumirei meu trono,
Minha redoma fechada, lacrada e impenetrável,
Meu mundo atrativo, compensador,
Minha aspiração de moço.

Meu corpo acompanha as evoluções da vida,
Da matéria viva, do espaço delimitado,
Das condições atuais, da política transitória
Desta minha aspiração de moço.

Minha mente brilha convencida e alucinada pela cultura.
Agita meu corpo em cópula ininterrupta e confina os saberes
Em clausuras de asfixia, nesta aspiração de moço que eu tenho.

Minha alma acesa como a vida, flutua no meu corpo aceso como fogo,
E no espaço dele, se concentra, ardorosa, amante das minhas aspirações de moço.

Coisa séria, responsável, coisa de homem, sonho de jovem,
Guerrilheiro, lutador, arma em punho, fé no amor, cartas na mesa,
Tudo legal na trincheira, tudo por bem das aspirações de moço.

Quantas formas irregulares nas sombras da noite, quantas noites irregulares nas formas
Das sombras que quebram e defloram a imaginação minha, nestas eloqüentes aspirações de moço.

Quantos canhões exóticos, quantas batalhas cegas, quantas pessoas surdas às minhas canções de moço.

Sim, canções de moço forte, idealista, responsável.
Poemas de moço puro, virgem, imaculado, que cansado não se rende,
Que derrotado não se entrega, que assassinado nunca morre.

Canções de um homem, quase gente, humilde e poeta, apenas poeta de si mesmo.

Aspirações nobres, soberanas, inegavelmente percebidas,
Indiscutivelmente corrompidas e nada mais...

domingo, 7 de junho de 2009

Abismos


Depois que passarem as sombras e puderem ser
Vislumbrados todos os abismos, então estaremos realmente preparados
Para superá-los.

Mas como passarão as sombras aos nossos olhos se
Somos nós mesmos que encobrimos a luz ?

Será que teremos de procurar a luz em outro
Lugar que não diante dos nossos olhos ?

Elementar que sim.

Pois também os abismos se encontram dentro
De nós e não à nossa vista.

sábado, 30 de maio de 2009

Caminhamos



A gente vai crescendo enquanto o tempo passa e não percebemos que cada momento é indispensável para a existência do momento seguinte.

A gente cresce no corpo e na alma, estabelece a rota e segue o rumo ao sabor dos momentos, ora de prazer ora de dor.

Tudo está organizado numa cadeia de surpresas que ao causar espanto nos incendeia e ao nos decepcionar no motiva a vencer.

Assim caminhamos pela vida quase sempre incoerente, que nos presenteia com obsoletos e nos nega a parte que desejamos presentear.

A gente vai amordaçando o sentido das coisas, deixando as aparências tomarem lugar onde deveríamos ser e só ser.

Mais que as palavras, a atenção é indício de uma dedicação firme e forte que não pretende ser falada.

E a gente se precipita no tempo, concluindo sem consistência sobre o que não se pode afirmar.

Assim caminhamos pela vida.

Ou é ela que caminha sob nossos pés ?

Ele passa por mim

São quase 18 horas de um domingo.
A tarde é fresca, finda o sol, muito ar.
Num canto do quarto o violão sem cordas
Como eu o deixei para não me tocar.

A cama desarrumada e fria dorme.
Uma lâmpada acesa faz brilhar o espelho.
Eu me olho. E me olho bem, as rugas, o desespero.

Sento novamente na beira da cama.
O silêncio grita sufocado.
Na gaveta entreaberta vejo um retrato já amarelado.

Olho ao redor as velhas paredes.
Procuro encontrar algo, quem sabe alguém.
Mas nada vive, nada me fala.
E eu, parece, não vivo também.

No peito sinto dor e agonia.
Gotas de suor molham meu rosto.
Agora o cinza da noite acende no céu.
Nem sinal da minha renascença.
Pela janela aberta vejo a luz do posto.
Está tudo em desordem.

Eu quero gritar, gritar alto, bem alto.
Pela fresta da porta o silêncio foge.
E no mesmo momento o amor aparece.
Corro ao seu encontro mas ele passa por mim.
Perambula pelo quarto, remexe em tudo,
Busca tudo, tudo menos eu.

Na gaveta entreaberta ele encontra o retrato
E como por mágica se vai.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Drummond (19.08.87)

Adeus doce poeta amargo.
De ti não li poema algum
E apesar de ser assim
Agradeço-te por tê-los escrito.

Adeus doce poeta triste.
Muito me inspirei na tua fama,
No teu sucesso que reverencio
Mas confesso nada de ti ter lido.

Nada enquanto existiram pedras
Diante das minhas retinas.
Não que sejas um poeta menor
Mas sim porque sou eu um leitor menor.

Não te dou adeus porque
Tu estás no que pensavas e
Teu pensamento não se foi.

Acredito que tenhas removido
A redundante pedra do teu caminho
E justamente por isso rendo-me a tua coragem
De ser covarde e deixar-se ir,
Imputando à poesia outra longa viuvez.

Soneto desvairado a Mario de Andrade

Hoje eu acordo com lágrimas saltitando,
Os olhos vermelhos ardendo de sono.
Como eu queria, caro Mario, como eu queria
Acordar atrás, há cinqüenta anos!

Ver a luz do querosene em chamas
E desvairado ver a Sé sorrindo.
Ignorar completamente a gasolina
E ver passar incontáveis passarinhos.

E o cavalgar, e o cavalgar garboso
No São Francisco em longas saias metidas
De lindas damas, corpos puros, gostosos,
Pouco barulho, pouca gente bandida.

Meu louco Mário, meu doido, como eu queria
Ter vivido com você estes meus dias
Esquecer o Metrô, perpetuar o sarau!

Como eu queria que hoje você voltasse
E bem do alto da Paulista gritasse
Que este desvario é imortal.

sábado, 16 de maio de 2009

Reflexões

Na poesia do olhar que traduz alegrias
Consolo minha intensa fadiga ao lembrar que posso amar.

Na aurora clara acordo meus dias
Ouvindo a mensagem que irradia um aroma de bem estar.

Na janela escancarada ao sol que ilumina
Num canto da sala a florzinha menina
Encontro a vontade de ter ideal.

Na penumbra deitado num canto da vida
A imagem que vem nem sempre é querida,
As vezes fantoches a nos enganar.

Na ousadia da morte em espreitar escondida
Percebo a maldade abrindo a ferida
Na criança, na flor e nos seres de paz.
E também o monótono paria que mantém viva,
A nobreza inerte, obscura e falida
Se lambuzando de vaidade material.

No valor dos homens de quem a gente duvida,
Há um mistério que a gente acredita
Ser o propósito de ser racional.

No negrume do asfalto que nos é de valia
Os carros perfuram a noite vazia,
Entoando canções que lhes são fatais.

E nas trevas, nos deixam uma amiga
Que só queria clarear a avenida;
A lua: Uma amiga que não vai se apagar.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Chuva

Cai a chuva.

Em gotas que riscam o espaço azul em vertiginosa descida, inundando oceanos.
Pingos crispando a face lisa e suave de lagos prateados.
Farpas que caem esmorecendo a terra, fazendo ruir a conquista de anos de luta,
E que se negam a cair, endurecendo a terra para fazer sucumbir a luta de anos.

Cai a chuva.

Longa, penetrante, virtuosa.
Faz do sólido granito lama cruenta e do árido solo, pastagens verdejantes.
Faz na calma natureza estrondos e relâmpagos, matando a sede dos vivos errantes.

Cai a chuva.

C i c u a
A a h v

C i c u a
A a h v

C i c u a
A a h v
A h
C i c u a
A v

C i C u a
A a h v


O vôo do sonho

Do alto daquele sonho
Eu não podia perceber cá embaixo
A realidade adversa.

Então, como num passe de mágica,
Acordei e caí de forma irremediável.

Não que a queda me assustasse,
Mas garanto não ter ficado tranqüilo
Quando acordado e caído
Vi o sonho planando no horizonte.

Eu estava fugindo dele ou ele fugindo de mim ?

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Apologia

Calam-se os profetas, sucumbem profecias.
Agora os poetas vão sonhar.
Vão encher as noites de euforia
E até as armadilhas vão calar,
Desarmadas pelas brandas poesias
Tecidas sob noites de luar.

Vencem, os bordéis, a última porfia.
E os filhos da noite agora vão ser pais.
Quem vive a natureza reverencia
Os que moldam na beleza a fantasia
E envolvem o ambiente de poesia
Sem recrudescer jamais.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Tarde demais

Sou palhaço na ribalta da vida, disfarçado de espectador.
Pinto meu rosto na esperança inútil do espelho quebrar minha dor.

Ando pelas ruas com passos de executivo mas sou executor
Executei minha própria felicidade, por viver na vaidade.

Ontem não fui nada que eu não quisesse ser.
Hoje sou tudo o que pretendi.
Amanhã serei somente o que me restará pra ser
Ninguém, ninguém além de mim.

Para fazer nada em lugar algum feito um palhaço no picadeiro,
Lá também não serei mais do que mais um
e então na certa eu chorarei.

Mas será tarde, tarde, tarde demais!
pra sobre-morrer a vida
Mas será tarde, tarde, tarde demais,
tarde demais, tarde demais.

Eu quero saber

Eu quero saber se sou feliz.
Eu quero saber se protestar
faz a gente, de vez, largar fuzis.

Eu quero nascer junto do sol
morar nas cachaças que ingerir
e depois o lamento vou cantar, cantar, cantar.

O vento leva a poesia embora
e o canto fica mudo ao perguntar:
Se o homem num tropeço acende a guerra
que paz há de encontrar ?

Eu quero saber se sou daqui.
Eu quero saber se resistir
faz a gente de vez viver feliz.

Eu quero morrer junto do mar
levando a fumaça que tossi
e depois do silêncio vou beber
a paz, a paz, a paz.

Eu quero saber, tenho direito, eu quero saber.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Ipiranga com São João

Inspirado vou descendo a São João desde o Banespa,
Curvo-me à São Bento, reverencio o Líbero Badaró,
Respiro fumaça na Praça do Correio e lamento estar só.

Continuo São João que agora subo,
Corpo ereto, mente lavada, alma que flutua,
Corto Conselheiro Crispiniano rumo a não sei onde.

Mas continuo São João, Largo do Paissandu afora,
Respiração fica ofegante, paro no churrasco grego que adoro
e vejo já, carros e ônibus pulsando na esquina mais famosa.

Agora é Ipiranga, um cruzamento em cruz de malta,
Controlo meus pés, afinal é chegada a hora e o suor me salta
Testa abaixo com um prazer incontável.

Estou no vértice de São Paulo, parado, autômato, estátua.
Vejo no horizonte a Praça da República e um povo apressado
ganhando terreno a todo custo no embalo de mais um dia.

Mais um dia feliz na metrópole dos sonhos noturnos
e soturnos de uma única vez. E minha tez transpirando
engulo o vento querendo copular com as estrelas.

Ah, Ipiranga amiga velha de guerras e paz !
Ah, São João, eu te amo demais !

Mulher, campo de paz!

Que pelo simples fato de ser mulher já é melhor.
Que pela maturidade do sentimento já é mulher.
Que pela luta inglória contra o nada já é fiel.

Perdoe-nos pelo preconceito arraigado,
Perdoe-nos pela falsidade imatura,
Perdoe-nos por não sermos melhores.

Mulher, tu és o futuro da raça humana,
o porto seguro das mentes insanas,
que masculinamente te insultam,
que machistamente te executam,
ao sabor de um ciúme qualquer.

Perdoe-nos pelas fraquezas,
Perdoe-nos pelas tristezas,
Perdoe-nos por roubar-te a paz.
Perdoe-nos por não sermos também mulher

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Madrugada Paulistana


Foi a madrugada, a lua se esconde.
Dentro de mim só ilusão.
Por sobre os telhados o sereno
Deitou lágrimas que agora se vão.

A brisa da manhã é fria.
São Paulo acorda agitada.
Por sobre os leitos das ruas
Caminham nuas almas geladas.

A noite morreu sozinha.
Exceto pelos porteiros das boates,
Pelos bombeiros, padeiros,
Eiros e eiros ela morreu só.

Os pássaros biônicos cantam
Harmonias de alento.
Procuram alegrar o momento
Em que todos têm cacos de vidro nos pés.

Cacos nos pés, cascos nas patas.
As buzinas despertam o sono.
Sob as cobertas copulam – zap-zap – autômatos
Porcas e parafusos estéreis, eunucos.

O dia vem alucinante como um caos.
Pernas varicosas caminham rumo ao ganha-pão.
Os óxidos, bióxidos e monóxidos estão no ar.
Alvorada paulistana. Ganha não.

Réquiem para o mar

O mar num gesto delicado e simples
Lambeu da areia fina o orvalho da noite
Que desceu e virou mar.

E assim se deu até que raiou na noite fria
Um rebento de sol que ali jazia e a secou.

E mais nenhuma gota fez-se mar,
E mais nenhum mar fez-se orvalho,
E a vida se extirpou.

Santo

Vem, ouça o canto enquanto espanto,
Cada canto no teu canto, cada canto pra cantar.

Ergue este teu corpo, teu encanto,
Cada pranto, no teu canto, cada pranto pra chorar.

Rompa com a angústia do teu peito,
Vê se larga este teu leito e vem pro campo pra lutar.

Não, não diga não só por espanto,
Vê se foge do teu canto e vem pro conto pra ficar.

Não, não diga sim só por encanto,
Vê se abre este teu canto e põe pra for a este teu mal.

Já passou a hora de acalanto,
Este teu puro corpo santo vai pro campo pra sangrar.

A carne é viúva

A viúva parte, o bolo fica e as pessoas que comemoram na casa ao lado a tristeza também se vão.
As mágoas fartas na mesa branca da viúva triste, são a pura imagem de uma curta vida.

As pessoas cantam em torno da morte e a viúva fica largada à sua própria sorte.

As mundanas amam, toda carne é pura, todo homem é santo, mas só a viúva é perdida.

Ela tece a teia e nunca habita. Ela tece a meia mas sempre hesita.
As pessoas fogem, deixam filhos pobres que a viúva cria.
Ela parte o bolo, limpa a teia e fica.
As pessoas contam; A mundana é fria.

Sua voz é fraca, o olhar é fixo, a poesia é sorte, a boêmia é morte, a tirania é vida.

A viúva carne sofre a própria chaga que não tem mais cura, pois a carne fede e o fedor procria.

E agora é hora da carne. Por ela tudo se perde e se acha em todos os cantos.
Ela, a bela musa quente numa cama fria, repousa inerte e quase nua a espera louca de um bem comum.

Ela é rica, forte e quente. Forte, rica e quente. Ela é quente.

Nós somos seu alvo, seu objeto, seu cordeiro manso de chifres grandes, seu dinheiro fácil num trabalho árduo, seu escravo forte no caos do espírito, seu domínio fácil numa guerra santa.

Eu sou homem, ser da terra, ser da fome, ser da sede, ser da vida, que devora a carne e por ela envolvido, represento a morte da viúva vida.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Um caminho entre o verde

Perambulando, campos, terras e matagais
Encontrando e perdendo, ilusões por que sonhar,
Na busca desorientada de um sonho a mais,
Entre o céu e a terra, uma nau vem navegar.

Um atalho percorrido passo a passo
Na certeza de apressar o chegar,
Vejo, imaculada, uma flor solitária
Dando seu viço e sua formosura ao olhar.

Um caminho entre o verde, natureza viva,
Eu percorro, solene, ora no rumo ora a deriva,
Mas continuo, incontinente, a buscar

Algo que em mim já viveu em tempos distantes,
E que minha armadura de cavaleiro errante,
Me impediu de sentir e apreciar.

O próprio caminho que sempre foi o destino,
Melhor que as paragens, melhor que o cais.
Um caminho entre o verde das minhas aventuras
Que me conduz à feliz maturidade da paz.


Vitória

Nas veias sangue fervente,
nos olhos o brilho tangente,
na boca o grito animal.

Nos braços o fuzil regente,
nas sombras o inimigo presente,
na mente o medo infernal.

Nas pernas o vigor imposto,
nos jornais a imagem do rosto,
e no peito uma medalha, um mal.

Em casa sete filhos da luta,
na rua sua mulher é puta,
na lápide : Foi herói, é imortal.

Vazios

Eu tenho vários vazios
Um pra cada lucidez,
E tenho tantos medos
Quantos preciso pra me defender.

Eu tenho muitas sensações
Uma pra cada sensatez,
E tenho medo, muito medo outra vez.

De vez em quando enlouqueço,
Ouço vozes, rasgo a roupa e subo na mesa.

Eu tenho vários vazios,
Um pra cada estupidez,
E tenho tantos medos
Quantos nem sei dizer.

Eu não tenho muita luz
Embora há quem diga que sou sol,
E tenho frio, sinto frio e dou dó.

Eu tenho vários vazios,
Cheios de vontade, vontade, vontade...

terça-feira, 14 de abril de 2009

Profissão; doador

Homenagem ao dia dos professores

Cansado, rosto extenuado, corpo doído, segue o operário
Sem horário pra terminar.
Depois que passam as horas do ofício, seguem-se as horas do
Sacrifício que insistem em não acabar.

Mas caminha solene, varando as noites, penetrando os dias,
No rumo da sua porfia, sem espaço pra recuar.
Dele dependem muitas mentes vazias, tantas que nem sabe
Mais das folias, nem dos céus, nem das cantorias em noite
De fino luar.

Espera que passem os meses velozes, ignorando seus algozes,
Pra defender seu pensar.
Multiplica o saber, reproduz sua angústia,
Eleva a moral, perdoa e perdoa se é este o grande mal.

No final goza o prazer de ver que fez saber, e que este saber
Um dia vai fazer saber também.

Entrega sua alma, seus sorrisos, sua paciência em troca da
Ciência de que vazias as mentes não são mais.

E continua doando eternamente!
Continua entregando, nosso querido lente,
O que ninguém mais pode entregar.

Parte de si, sem qualquer pesar.

Estado de paz

Armistício.
Pausa e solução.
Evolução racional.
Tempo de paz.

Armistício.
Acenderam a paz
De dentro da guerra.
Ainda se faz.

Armistício.
Invoco meu Deus
Devoto que sou
Do seu amor.

Armistício.
Pretexto eficaz.
Inócuo pesar,
Constrangimento.

Armistício.
Utópico sonho em estado de paz.

Ando inconformado

Ando inconformado com a cegueira do mundo
desses homens vagabundos que nos fazem as leis.
Criam suas próprias armadilhas
e depois incitam suas matilhas
contra os seus próprios reis.
Erguem vigorosos monumentos de aço
e apertam o nó do laço até nos sufocar.

Oprimem pois opressão é ordem.
Aniquilam pois protestar é desordem.
Oprimem pois opressão é ordem, ordem.

Ando inconformado com as agruras da vida
e nem mesmo ungüento temos pras feridas
e nem mesmo o tempo pode nos recompensar.
Somos heróis mortos e ressuscitados,
cabisbaixos e condecorados.
Somos heróis mortos e ressuscitados,
perfeitos idiotas sem mãe nem pai.