quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Bom dia minha poesia

Você é, como por encanto,
a inspiração do meu canto
do meu sorriso, do meu sonhar

Você é brisa refrescante
que se faz presente no corpo amante
inebriando meu olhar.

Você é a flor do meu tempo,
poesia do meu sentimento
desabrochando ao alvorecer.

Você é o perfume delicado
que me contagia por todo lado
e sempre me faz renascer.

Bom dia minha poesia,
flor da manhã que irradia
um aroma de bem estar.

Que hoje você tenha um dia
repleto de alegrias, com as forças
positivas que meu amor vai te mandar.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Prosas - Só pra variar um pouco

Queridos, agora estarei postando no Palavras Mágicas, contos e crônicas para quebrar nossos velhos paradigmas. Espero que gostem.

O criador de figuras


Nas manhãs de domingo costumava brincar com os raios de sol. Filtrava, entre os dedos, aquela luz amarelada que descia do céu, apreciando o que se formava no chão, figuras ambíguas impressas pela sombra.

Achava aquilo tudo muito louco, tanto que se atrelava neste transe por horas seguidas.

Era um criador, modelando suas criaturas, esculpindo no ar seus castelos, úmidos e velhos, reproduções impecáveis da sua imaginação.

As vezes seus lábios desenhavam um sorriso calmo, repleto de sinceridade que logo discipava inibido pela sua extrema concentração.

Seu nome era Guilherme. Se bem que um nome tão grande não lhe caía nada natural principalmente porque ele era pequeno e franzino. Mas nós, amigos do peito e da alma atenuavamos esta discrepância chamando-o somente de Gui.

Era Gui pra lá, Gui pra cá, até que seus próprios familiares assimilaram bem o codi-nome.

Mas o tempo foi passando, os amigos do peito e da alma se distanciando cada vez mais e, enfim, sobramos o Gui e eu.

Eu passei a vida hibernando num casamento desconfortável, obsecado pela minha própria insegurança a ponto de me irritar com a alegria, me satisfazer na melancolia e ignorar a paz.

Quantas vezes eu não me enfiei num porre desavergonhado, sozinho dentro do meu ciúme até adormecer conformado! Sonhava, então, com as figuras de sombra que o velho Gui criava e nelas me consolava. Imagens irreais, cheias de fantasias. Na manhã seguinte, sóbrio e decepcionado, olhava o relógio com raiva querendo que ele parasse. Parasse às 8 horas da manhã de um domingo ensolarado.

E quando era relamente domingo, levantava antes das 8 horas, tomava um banho e ia até o Instituto. Eu tinha um prazer imenso em cumprir esta rotina, semana após semana, meses a fio, e não me importava com as pessoas que me criticavam por isso.

Quando eu chegava, sempre trazendo um pacote de cigarros, meu amigo Gui já estava esperando, aflito, andando de um lado para outro. Ele me recebia sorridente, esboçava algumas palavras e me conduzia até o páteo de mãos dadas.

O Instituto era um local agradável apesar do aspecto humilde e velho. Gui se sentia muito bem alí enquanto eu me esforçava para continuar pagando sua estadia.

Eu ficava até a hora do almoço observando em silêncio o processo de criação daquele gênio. Gênio mesmo. Gui era um gênio.

Entre uma figura e outra trocávamos palavras soltas, quase sem sentido para quem nos observasse. Mas nos entendíamos perfeitamente. Afinal, depois de tantos anos!

Um dia o terapeuta de plantão fez questão de ficar ao meu lado, calado, num silência profundo. De vez em quando balançava a cabeça negativamente, como se quisesse demonstrar que não se conformava com as cenas que via. Após alguns minutos ele me chamou e pediu que eu o acompanhasse. Saimos sem que Gui tomasse o menor conhecimento. Já na sua sala, tirou os óculos, esfregou os olhos e acendeu um cigarro. Eu não falava nada porque não tinha nada a falar. E isto o perturbava. Alguns instantes depois, pigarreou, soltou o cigarro no cinzeiro e disse:

___ Sr., Ah… como é mesmo seu nome?

___ Alex.

___ Pois bem Sr. Alex, vamos esclarecer de uma vez por todas este caso estranho.

Deixei o homem falando sozinho e voltei para junto do Gui. Não queria falar sobre o assunto, não queria ouvir sobre o assunto, enfim, não queria nada além de assistir as performances do Gui. Nada mais e, além disso, o dia estava ofuscantemente ensolarado.

Gui, um criador, um mestre, um verdadeiro guru.

Eu estava morando sozinho num pequeno apartamento no Centro da cidade, meio sem mobília, meio sem arrumação. Tinha comprado uma máquina fotográfica profissional com todo o aparato necessário. Tinha, também, adquirido de segunda mão um ampliador em bom estado. Estava tão entusiasmado que não pensava em outra coisa senão no projeto Gui.

Havia decidido que o resto do mundo devia conhecer as criações do Gui e que ele devia ser reconhecido pelo resto do mundo. Afinal, era o mínimo que eu podia fazer por quem fizera tanto por mim ao longo de todos estes anos.

Fiquei acordado a noite toda daquele sábado. Foi uma noite longa e angustiante.

Como nos tempos de criança, cheguei a rezar para o sol nascer rapidamente. A espera me forçou a pensar ainda mais na estratégia de divulgação.

Em letras garrafais: GUI, O CRIADOR DE FIGURAS. Este seria o slogan.

O relógio marcava 7 horas qando peguei a máquina e saí. O sol já estava forte, quente e vivo, dependurado lá no céu azul quase sem nuvens.

Centralizei a objetiva com agilidade pois o Gui era muito rápido em suas criações. Magníficas. A primeira figura, a segunda, a terceira e todas as que se seguiram. Gastei os dois filmes em 48 fotos de pura imaginação. Tão afobado nem me despedi do Gui. Saí correndo como um menino assustado. Já em casa, no quarto escurecido, iniciei o trabalho de revelação. Ao terminar estava estafado.

Ah Gui, velho Gui, que talento!

Sentei num sofá da sala, acendi um cigarro e coloquei os pés sobre a mesinha de centro. Deixei a fumaça vagar diante dos meus olhos, entupir minhas narinas até me saturar.

Entardecia e eu adormeci logo depois de apagar o cigarro. Tive sonhos confusos. Sombras, fumaça, luzes que me ofuscavam, duendes, sereias. Acordei meio deprimido, mole e com muito calor. Era Dezembro.

Fui até o quarto, abri a janela para o ar entrar e tirei as fotos reveladas do varal.

A primeira era toda branca. A imagem de uma brancura solene, bem à maneira do Gui. Da segunda em diante, só imagens de sombras, sem nenhum sentido, amorfas. Passei-as uma, duas, tres, dez vezes diante dos olhos e sempre via a mesma coisa. Nada. Nada que tivesse o mínimo sentido para qualquer pessoa.

Decepcionado, atirei as fotos no chão com raiva. Cadê as figuras do Gui? Onde estão as belas formas? O que eu fiz de errado para elas não saírem como eu as via?

Peguei todas as fotos, coloquei-as num saco plástico e fui até o Instituto. Era noitinha e o calor continuava forte.

Um homem que atendeu disse que não era possível falar com ninguém naquele horário. Que eu voltasse no dia seguinte. Enfurecido comecei a gritar pelo Gui. Ele não me ouvia. Era tarde para quem vive do sol e a esta altura ela já devia ter ido dormir.

De volta a minha casa, repassei as fotos, todas várias vezes e deixei minha imaginação se encarregar do resto. Um resto que era sempre mais louco, mais atraente. Flúidos que regiam um bom astral. E então eu senti no ar. Senti que nem mesmo poderia olhar minha imagem além do espelho. Só mesmo numa manhã de domingo ensolarada, através das figuras do velho e indivisível Gui.