quinta-feira, 28 de julho de 2011

Visão fotográfica

Eu vi um parque cheio de crianças,
Uma gritaria, um corre-corre, um pula-pula.
Eu vi um lago cheio de carpas coloridas,
Um silêncio enorme, um mergulho de profunda paz.

Eu vi pássaros cheios de asas
Roçando os telhados das casas, um voa-voa macio.
Gravei tudo como uma fotografia que até agora não amarelou.
Continuo vendo cenas, vivendo cenas, encenando.

Agora é o sol que urina seus raios em nossos vasos sem flores.
Vejo muitas sombras aflitas fugindo da falta de luz.
Cada qual carrega sua cruz tatuada no ombro.
Revejo a fotografia ainda com brilho.
As crianças têm olhos para as carpas, para os pássaros.
Fico observando-as com inveja. É pena.
Eu cresci e sei que não estou na fotografia.
É pena.

O amanhã

O amanhã me espera.
E enquanto eu abro as mãos e levanto o braço de luta
Sangrando o suor dos dias, o hoje sorri alegre de compaixão.

Enquanto eu canso o corpo e suo a alma,
Enquanto minhas lágrimas encrespam-me os olhos
Vermelhos meu coração sorri.

Amanhã, enquanto a ópera acústica soar bravia
A melodia do meu sono,
Quem sabe poderei abrir os olhos e ver verde onde hoje é vermelho
Do sangue de quem tanto amo.

Então, abrir-se-ão as portas coloridas
E ainda mais suarei de prazer pelo orgasmo da liberdade.

O fogo dos olhos partirá enfim
E no espelho da euforia
O alvo brilho da minha felicidade
Ofuscará meus opressores.

Ninguém é melhor

Ao som maravilhoso dos meus heróis que empunharam guitarras.


Não quero nada que me faça lembrar as guerras,
Nem mesmo a minha terra eu quero perto de mim.














domingo, 24 de julho de 2011

Pensando em mim

Era uma vez uma madrugada calma e enegrecida
Pela ausência da lua.
Houve quem buscasse nela o prazer dos sonhos
E perambulasse pela rua.
Neste silêncio, como em todas outras ausências,
Era intenso o meu tédio e nele eu traduzia meu valor.

Andei por várias praças e avenidas ao som das luzes extrovertidas
E sob a luz do roncar dos carros.
Eu conheci a verdade e a mentira entre um trago e outro no cigarro.
E na fumaça embaçada e branca distingui as formas
E o conteúdo do meu pensamento.

Foi sem dúvida uma madrugada calma.
Mas em meu peito aprisionei minha alma no seu revoltante inconformismo.
E transbordante fiz-me aflito,
Por conflitar o que eu via com o que eu pensava.
E eu só estava pensando em mim.

Flor morta

Num pequeno espaço apertado nas paredes
Desenvolvi uma órbita celestial.
Penetrei nas entranhas meigas e vermelhas
Apertadas como um nó.

Uma pressão constante e sufocante
Queria como uma prensa
Transformar-me num fogo chato e quente.
Eu estava prestes a vomitar.

Minha pele escorregadia pelo óleo untado
Na prensa quase sangrava de calor.
Eu era só um caule ereto.
Um falo ativo e vibrante, cheio de sangue.

Eu emanava prazer.
Movimentos constantes e calmos,
Ziguezagueando, em sobe e desce,
Tudo pelo ejaculatório prazer.

Na porta do covil, no calabouço da vida eu suei.
Suei como um condenado a beira do cadafalso.
Eu amei aquela carne quente e suei nela,
Derramei todo meu orgasmo,
E murchei como uma flor morta.

Latido

E não foi o cão.
Quem foi que se levante
Deste úmido chão.

Latiram, eu sei, foi forte.
Como costuma latir o cão.
Grave e agressivo
Como rugido de leão.

Latiram, pois, nos meus ouvidos.
Mas cão não faz revolução !
Quem foi? Novamente eu pergunto
Porque senão.....

E não foi o cão não.
Quem foi que se levante
Porque senão tem revolução.

Feridos

O vento e o fogo, o fogo cruzado.
A alma o rosto o coração.
A paz querida e um lamento,
O corpo amante, amante em vão.

A festa começa com mortos,
Feridos à faca, feridos à mão.
Feridas, cigarros acesos,
Sangue jorrando no chão.

Perdidos todos os conselhos.
Amigos, espelhos desta união.
Sorriso fingido, soldado banido
Vagando bandido de arma na mão.

Poetas, cantores, amantes,
Muito descuidados poetam a razão,
Razão pela qual são escravos
Com a força pura do coração.

Estrela de Jesus

Viaja no céu uma estrela brilhante,
Que carrega consigo a missão de guiar,
Os homens que nasceram amantes
Ao seu rei que vai chegar.

Que nos guia sempre rumo a paz,
Que nos recolhe da lama
Nos levanta e nos refaz.

Nos aponte a melhor estrada
E o quanto custará chegar.

Na união dos punhos justiceiros,
Vença o melhor, vença o verdadeiro,
Vença o amor, pois Jesus é amar.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Monólogo do ventre

Fizeram-me de amor e química orgânica.
Agora estou perdido, inerte na placenta,
Sozinho no escuro.

É verdade, estou crescendo.
Dentro do meu próprio eixo.
Meu sangue é quente e ao singrar pelas veias
Aquece a lisa e transparente pele que cobre minha máquina.

Tudo é silêncio e escuridão.
Certos abalos interferem na minha evolução,
Bloqueando o meu cabo de sustentação.
Mas logo findam.

Já estou maior, eu me sinto.
Agora longos apêndices deixam minha massa e
Buscam o espaço livre.
Algo está mudando.
Sinto estar sendo repelido do meu habitat.
Sinto calafrios e tédio.

Sou gente. Já sinto dor, amargura, ódio.
Já estou disforme e conforme.
Já sinto ter sentido, ter existido,
Mesmo neste pedaço de papel.

Nas garras do mundaréu

Estou cantando um sonho imenso,
Em cada palavra uma paixão,
Em cada boca um sentimento
Por tudo ou por nada um beijo vão.

Sonhando esta mesma paixão.
Em cada face uma ruína
E o desespero da solidão.

Espalha esperança de paz,
Erguendo um muro de utopia
Que ninguém jamais alcançará.

Meu canto agora é rouco e forte.
Estou nas garras do mundaréu.
Em cada palavra um grito de morte,
Em cada boca a denúncia do réu.

Atraquei neste porto inconsciente,
Acordei sem tropas de guerra.
Em cada passo me fura a baioneta,
Em cada esquina sinto a boca da terra.

Na tangente do mundo real

Vamos andar nas nuvens,
Na polpa aveludada do azul,
Sem medo ou venda nos olhos
Com o corpo e o espírito nus.

Vamos ouvir as canções da vida,
Lendo os poemas que ela faz
E nas asas da imaginação, querida,
Voar de alegria e de sono.

Que tal um cochilo na grama,
Na beirada dos nossos quintais,
Abrindo os olhos e os sentidos
Para gama de prazeres a desfrutar ?

Convido-te a ser minha amante
E na minha cama se abrigar,
Morar em mim eternamente
E permanecer sempre presente
Na tangente do mundo real.