sexta-feira, 24 de abril de 2009

A carne é viúva

A viúva parte, o bolo fica e as pessoas que comemoram na casa ao lado a tristeza também se vão.
As mágoas fartas na mesa branca da viúva triste, são a pura imagem de uma curta vida.

As pessoas cantam em torno da morte e a viúva fica largada à sua própria sorte.

As mundanas amam, toda carne é pura, todo homem é santo, mas só a viúva é perdida.

Ela tece a teia e nunca habita. Ela tece a meia mas sempre hesita.
As pessoas fogem, deixam filhos pobres que a viúva cria.
Ela parte o bolo, limpa a teia e fica.
As pessoas contam; A mundana é fria.

Sua voz é fraca, o olhar é fixo, a poesia é sorte, a boêmia é morte, a tirania é vida.

A viúva carne sofre a própria chaga que não tem mais cura, pois a carne fede e o fedor procria.

E agora é hora da carne. Por ela tudo se perde e se acha em todos os cantos.
Ela, a bela musa quente numa cama fria, repousa inerte e quase nua a espera louca de um bem comum.

Ela é rica, forte e quente. Forte, rica e quente. Ela é quente.

Nós somos seu alvo, seu objeto, seu cordeiro manso de chifres grandes, seu dinheiro fácil num trabalho árduo, seu escravo forte no caos do espírito, seu domínio fácil numa guerra santa.

Eu sou homem, ser da terra, ser da fome, ser da sede, ser da vida, que devora a carne e por ela envolvido, represento a morte da viúva vida.

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