terça-feira, 21 de julho de 2009

Barco


O vento, em parte, ajuda o barco que se desloca
Lentamente sobre o branco.

O branco é a cor das águas macias que flutuam no ar.

Que paz ! Que amor ! Que solidão !

O barco segue sem destino sobre as águas,
Sem descanso ou companhia.
Descreve a rota desejada no momento e não para nunca,
Nem por dentro.

Que harmonia ! Que amor ! Que solidão !

E o barco continua vencendo as ondas,
Deslizando em cristas brancas como uma canção de amor.

É importante chegar ao destino. Mas como defini-lo ?

Que amor ! Que alegria ! Que solidão !

O barco é dourado e transmite pureza despertando
A consciência inconseqüente.

O barco continuará solitário, singrando nas notas
Das canções amigas e estimulantes.
Continuará sozinho, remando-se nas águas
E vencendo horizontes.

Que solidão !

Que paz !

quarta-feira, 8 de julho de 2009

A cor púrpura


Desceu suave, deslizando gota após gota
por longos dias, intermináveis, pernas abaixo,
incontinente.

Do alto da beleza que os poucos anos lhe
conferia, estremeceu no início, mas logo
percebeu que não era sua anomalia.

Observou solene e curiosa, moça prendada,
de cabelos ruivos delicados que contornavam
seu rosto como um véu de seda carmim.

Descia aos poucos, ora lentamente ora mais
afoito, procurando caminho entre os arbustos
que circundavam o centro da erupção.

E ela apreciou sua pureza esvaindo-se, mas
ao mesmo tempo, sentiu um calor intenso que
lhe queimava as entranhas e fazia estremecer
todo seu corpo.

Tinha iniciado outra jornada, da pureza das
bonecas à certeza de mais nada.

A cor púrpura findou no quinto dia, dia do
armistício entre a infância e a juventude.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Livre arbítrio


Hoje eu vou pensar no mundo que virá.
Hoje eu vou correr, lutar até sangrar.
Hoje eu vou fazer arder o fogo são
Que ateado à roupa desta gente é vão.

Hoje eu vou despir a cara da vergonha,
Vou mostrar ao mundo a força de uma voz.
Vou andar descalço numa maratona,
Vou beber um rio buscando sua foz.

Hoje eu vou sentar tijolo em terra firme,
Navegar jangadas pelo alto mar.
Acender a lua deste céu nativo
Libertar cativos deste mau olhar.

Quero indenizar a perda dos sentidos,
Monopolizar as águas minerais
E perpetuar a voz do meu partido
Poetando a noite cheia de cristais.

Vou tecer poemas para minha amada.
Vou buscar nas letras meu pombo real.
Vou sonhar manhãs num paraíso verde
Éden de uma raça que é racional.

Na escrivaninha vou passar meus tempos,
Transportando a luz do sol para um papel.
Muitas entrelinhas não serão escritas,
Mas serão visíveis para o azul do céu.

Agora terminando aqui com toda esta rima,
Vou comer detalhes: Coisa natural!
E pensar no tempo que se aproxima
Antes que ele passe e me seja fatal.