sexta-feira, 26 de junho de 2009

A última viagem

Para Lobsang Rampa - 1978

Vi minha mãe me esperando,
Meu pai me querendo,
Cigarros tragando, me sonhando.

Vi meu corpo crescendo,
Tomando forma, nascendo faminto,
Placenta bebendo e comendo.

Vi-me, minha mãe se rasgando,
Seus pés distanciando-se,
Carne tremendo, pernas sangrando.

Vi meus passos errados, passos acertados,
Erros construídos, acertos destroçados,
Várias vezes perdido e encontrado.

Vi meu rosto sorrindo e chorando,
Por fora dormindo, por dentro acordando,
Cansado de ser, cansado de existir.

Até vi um barco zarpando,
Do eu me levando, subindo mar acima, navegando.

Vi meu braço, lenço branco acenando,
O último vestígio putrefato,
Terminada a última viagem.

Um comentário:

  1. A viagem, seja última ou primeira, fica por conta dos versos, estes sim, eternos caminheiros entre a efemeridade. Belo momento poético Roberto, como sempre. Parabéns!

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