sexta-feira, 1 de julho de 2011

Monólogo do ventre

Fizeram-me de amor e química orgânica.
Agora estou perdido, inerte na placenta,
Sozinho no escuro.

É verdade, estou crescendo.
Dentro do meu próprio eixo.
Meu sangue é quente e ao singrar pelas veias
Aquece a lisa e transparente pele que cobre minha máquina.

Tudo é silêncio e escuridão.
Certos abalos interferem na minha evolução,
Bloqueando o meu cabo de sustentação.
Mas logo findam.

Já estou maior, eu me sinto.
Agora longos apêndices deixam minha massa e
Buscam o espaço livre.
Algo está mudando.
Sinto estar sendo repelido do meu habitat.
Sinto calafrios e tédio.

Sou gente. Já sinto dor, amargura, ódio.
Já estou disforme e conforme.
Já sinto ter sentido, ter existido,
Mesmo neste pedaço de papel.

Um comentário:

  1. Fantástico Roberto!
    Num pedaço de papel ou numa tela, porque bem antes existe e tens te apropriado de teus desejos.
    Outro abraço
    Bela Poesia, parabéns pela produção.
    Passo a seguir-te

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