quarta-feira, 2 de novembro de 2011


Roupas  


A roupa suja desnuda a fome que assola
O homem que a roupa veste.
A roupa rasgada retrata calada a ventura
Do homem que a farda veste.
E nada pode mudar estas constatações.
Nada pode rasgar por dentro o que por for é roto.

Eu sou assim. Somos um todo.

A roupa limpa veste o homem que nu não passa de
Um homem que vestido pensava que era Deus.
A roupa cobre pelo pudor e descobre pelo amor.
Então é inútil cobrir.
A vida é a roupa da morte que depois de um corte
Já não serve a ninguém.
O corpo é um pedaço de alma que sem ele ainda
É alma e sempre será.

A roupa veste o corpo todo mas não deixa o corpo
De ser peste que contamina a alma.
A roupa que cobre o nu descobre a vaidade
E na morte, na eternidade, mofa, e se descose.

4 comentários:

  1. Um poema que suprime a nudez, sem despir completamente.

    Abraço

    ResponderExcluir
  2. Prof, muito bom! Eu acho que você deveria publicar um livro - se é que já não tem um!

    ResponderExcluir
  3. Eu ainda não publiquei nada Sarah,mas em 2012 será bem provável que eu publique. É certo que terei um artigo publicado num livro científico sobre comunicação em 2012. Está quase para sair.
    Bjs e obrigado pela leitura e comentário.

    ResponderExcluir